Todo um universo lá fora e, ao final, é sobre mim.
Para quem está seguindo a ordem dos domínios da realidade, este é o último domínio. Quem não conhece os domínios, pode começar por aqui ou mesmo pelo começo da teoria aqui.
Mas o que é o domínio que trata sobre mim (sigla abme)? Este quarto e último domínio da realidade é peculiar por simplesmente não ter conteúdo (ao contrário dos demais). Ele é o espaço para a individualidade concreta de cada um de nós.
É como visitar uma casa com quatro cômodos, você entra no primeiro e é um quarto, no segundo você encontra um banheiro, no terceiro uma sala, e ao chegar no último... você se depara com um espaço absolutamente vazio.
O abme não tem conteúdo porque seu papel é abrir espaço para que cada pessoa possa primeiro se reconhecer como indivíduo de gostos, história, sentimentos, características singulares, para que em seguida possa possa se reconstruir, se reinventar de modo a se tornar aquilo que quer ser e aquilo que já é.
A finalidade de termos um espaço para tratarmos sobre nós é, além de acolhermos as nossas individualidades, dar espaço para o que é próprio de nosso singular gosto e inclinações, para que isso possa ser distinguido do restante.
A falta desta consciência e percepção faz com que o indivíduo acredite que as ideias que ele endossa são ideias objetivas e imparciais, e não uma perspectiva própria sobre aquelas ideias que por vezes é apresentada sob uma aparência de neutralidade.
A verdade que muitos desconhecem, e mesmo os que conhecem não gostam de admitir é que conhecemos sobre nós mesmos muito menos do que gostaríamos ou mesmo precisaríamos para ter uma boa vida. E porque temos uma ideia parcial e distorcida do que somos, cometemos toda a sorte de erros - por ação ou omissão - ao corrermos atrás de coisas, situações e pessoas que não nos fazem bem, e deixarmos de fazer as coisas que nos dão a maior, mais duradoura e intensa autorrealização pessoal.
A jornada individual de cada um de nós no domínio do é sobre mim pode ser assemelhada a nossos esforços de autoconhecimento. Assim, meu desenvolvimento individual neste domínio é me conhecer melhor.
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O conteúdo deste domínio é um espelho para você se ver.
Este texto é uma apresentação do domínio, mas o uso dele no dia a dia é uma página em branco, para tentarmos entender ao outro, e a nós mesmos, nossas razões, inconsciente, medos, desejos, sentimentos e tudo o mais que interfere na forma como vemos o mundo e como nos relacionamos com as demais pessoas.
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O reflexo do reflexo do reflexo.
Cada pessoa funciona para as outras como um espelho de singular superfície e reflexos. Cada pessoa também projeta uma imagem única. E a imagem refletida no espelho de uma pessoa que reflete o espelho da outra é única também. E por mais bela que seja a imagem refletida, ou por mais que possamos atribuir ao espelho um reflexo mais puro, não devemos esquecer que a fonte original de sentido e significado é a pessoa refletida.
Ou colocando de forma mais clara e direta: Quem é o legitimo guardião da imagem original, única, refletida no espelho, também único, que projeta a singular imagem refletida?
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Misturamos nossos assuntos pessoais com tudo mesmo, melhor então que seja consciente e deliberado.
Um outro medo comum a esclarecermos é o de que ao darmos um espaço para as pessoas falarem e pensarem nelas estaríamos criando um espaço para o narcisismo ou egoísmo.
Nada mais longe da verdade. O narcisismo, a inflação do ego, o desrespeito aos limites do outro e do próximo vêm exatamente de NÃO levarmos em conta cada pessoa concreta que interage socialmente e participa do debate das ideias abstratas.
E por isso o abme, além de criar espaço para o autoconhecimento do que somos hoje, cria ademais as condições para realizarmos o ditado que diz "somos o que somos mas somos principalmente o que fazermos para mudar o que somos".
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Esse espelho reflete você e a realidade por meio de você.
Mas se o abme é uma folha em branco para preenchermos com o conhecimento de cada pessoal real com a qual interagimos, de onde vem todas as informações necessárias para dar suporte a esse aprendizado, como por exemplo as informações que você está lendo aqui agora?
Essas informações e ferramentas vêm dos outros domínios da realidade. Vem da experimentação do jogo, da teorização dos aspectos, do centramento que os fundamentos nos proporcionam, e das habilidades que podemos e queremos desenvolver para sermos melhores.
Dessa forma, para nos ajudar a elaborar aquilo que é sobre mim, recorremos a aspectos tais como a) conhecimento disciplinado das múltiplas linhas da psicologia; b) paradigmas (formas de ver o mundo) da religião, filosofia e arte; e no geral c) aspectos da realidade pessoal como realidade intrapessoal, realidade interpessoal, vontade, propósito, confiança, sensação, sentimentos, percepção, comportamento, e assim por diante.
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O silêncio do outro fala todas as coisas ao mesmo tempo,
mas qual delas eu ouço depende de mim.
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Educação não é psicoterapia (embora possa ser terapêutica).
E por fim, o domínio do é sobre mim diferencia-se da terapia porque nesta o paciente é o centro individual do universo no qual é focado o processo de conhecimento, ao passo que aqui múltiplos indivíduos em interação e lutando com suas diferenças é o foco do processo da escola da realidade.
Crédito da imagem: Drigo Diniz: https://www.pexels.com/pt-br/foto/espelho-de-parede-em-moldura-de-latao-3230126/
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