Ingredientes

  

As três propriedades da realidade são, numa visão geral, o primeiro componente do domínio dos aspectos.


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3 propriedades da realidade:

concreto, abstrato e pessoal.


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Uma comida gostosa.

Todo mundo sabe dizer o que é uma comida gostosa ou não para si. Então a pergunta mais interessante é o que faz uma comida ser gostosa? Ela é gostosa em si, por causa de seus componentes químicos, é gostosa pela ideia que temos dela, ou é gostosa porque a gente acha que é?

Se uma comida é gostosa em si mesma, então toda comida que alguém goste, porque sentiu nela essa gostosura, deveria ser gostosa para todos, o que sabemos que não é verdade. Os vegetarianos não acham gostoso o churrasco que eu gosto, e eu não gosto da "carne" feita de vegetais.

Por outro lado, a química da comida, seus sabores, conservação, temperatura, aparência etc influenciam sim e muito no aspecto concreto do gosto.

Se uma comida é gostosa pela ideia que temos dela, então todos achariam gostosa a comida mais nutritiva e saudável, pois é sobre essa que temos a melhor ideia de ser algo bom, e bom é para ser gostoso.

Por outro lado, sabermos que a comida é vista como comida por nós (não é carne humana, todo mundo concorda, cérebro de macaco, a maioria concorda, miúdos, escargot, vários concordam etc.) é um aspecto abstrato fundamental do gosto, o que se prova se viajarmos para um lugar, comermos algo que achamos que é um tipo de carne e depois descobrirmos que é outro (gato, cachorro, papagaio, o que for).

Se uma comida é gostosa pelo aspecto pessoal, porque o meu gosto a torna gostosa, então o meu gosto seria livre para escolher que comidas acha gostosa e quais não acha, e pessoas de uma mesma cultura, ou criadas como um mesmo hábito alimentar, mas que são pessoas diferentes, não gostariam das mesmas comidas.

Por outro lado, influencia o gosto da comida, pelo aspecto subjetivo, se estamos alegres ou tristes, famintos ou enfastiados, distraídos ou atentos, doentes ou saudáveis, se conhecemos a comida ou não, comemos na infância ou não, e assim por diante.

Com isso chegamos à conclusão que nenhum fator, por si só, seja ela a concretude da comida, a ideia que fazemos dela, ou o nosso gosto subjetivo, faz uma comida gostosa. O que a faz gostosa é a conjugação criativa dos aspectos concreto, abstrato e pessoal, amalgamados na realidade que sou eu comendo uma comida num certo momento.

E o que vale para o concreto, abstrato e pessoal da comida, vale para todo o resto da realidade.


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La vida, un  ballet sobre un tema histórico, 

una historia sobre un hecho vivido, 

un hecho vivido sobre un hecho real. 


-  Julio Cortázar



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Três propriedades básicas de toda a realidade.

A realidade como ela é revela-se como o emaranhado de todas as realidades que, juntas e separadas, a constituem. Dentre os múltiplos aspectos nos quais a realidade pode ser separada e analisada estão os aspectos concreto, abstrato e pessoal. 

A realidade detém propriedades/aspectos concretas (os fatos), abstratas (as ideias), pessoais (as experiências subjetivas). Assim, nessa perspectiva, algo não é real quando não é, nem concreto, nem abstrato, nem subjetivo.

Quando as realidades se manifestam, ainda que seja com apenas uma dessas propriedades (se é que isso é possível), elas já são uma realidade. Além disso, os fundamentos estarão, e outros aspectos podem estar, presentes, em um estado atual da realidade.

A realidade, em sua propriedade concreta contém, dentre outros subaspectos, os fatos, o espaço (aqui, ali, lá), o tempo, as posições e as direções. 

A realidade, em sua propriedade abstrata contém, dentre outros subaspectos,  as ideias, a imaginação, conhecimento disciplinado (as ciências e outros conhecimentos disciplinares), o conhecimento indisciplinado (todo o conhecimento que não é disciplinar), a didática, a linguagem, e assim por diante.

A realidade, em sua propriedade pessoal, contém, dentre outros subaspectos, as experiências subjetivas, as habilidades e formação, a realidade intrapessoal, a realidade interpessoal, a vontade, a confiança (fé, na dimensão religiosa), as sensações, os sentimentos, a percepção, o comportamento, o propósito, os agentes, as organizações, as sociedades, e assim por diante.


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Ficha do aspecto.

Nome: Três propriedades da realidade.

Número: 26

Sigla: 3PRO

Explicação do que não é: As três propriedades da realidade não são uma alegoria (embora possamos fazer uma para ilustrá-las, como fizemos com os ingredientes da realidade). A realidade como ela é é, de fato, idealmente, experencialmente e temporalmente, constituída por essas três propriedades. As propriedades não podem ser separadas na vida prática e realidade não é reduzível a uma de suas propriedades, embora possa ser vista pela perspectiva de uma delas.

Termos semelhantes: 3 dimensões, realidade tridimensional, 3 aspectos da realidade, 3 atributos, ingredientes, qualidades, aspectos da realidade

Explicação do que é: Os três ingredientes da realidade são um aspecto que agrega três outros aspectos e trata do que há de comum e diferente entre eles. Esse aspecto funciona mais como uma classe dos três outros aspectos do que como um aspecto em si mesmo.

Métodos análogos

Platão é um grande nome do estabelecimento da autonomia e importância fundamental das ideias e da dimensão abstrata. 

Aristóteles é um grande nome do estabelecimento da autonomia e importância fundamental dos fatos e da dimensão concreta. 

Michael Polanyi, na obra Personnal Knowledge, é um grande nome do estabelecimento da autonomia e importância fundamental da dimensão pessoal. Dos três, somente o último trata as três dimensões em igualdade de importância e portanto se aproxima mais de nossa abordagem.

Para que serve: Para nos permitir lidar de forma construtiva com o recorrente conflito sobre o que é mais importante: os fatos da realidade concreta, como pensam as pessoas mais práticas, as ideias da realidade abstrata, como pensam as pessoas mais teóricas, ou as experiências da realidade pessoal, como pensam as pessoas mais focadas em pessoas. 

Aspectos relacionados: aspecto/dimensão concreta, aspecto/dimensão abstrata, aspecto/dimensão pessoal, aspecto/dimensão temporal.


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Três propriedades de uma mesma realidade.

O mais comum é que, o que as pessoas chamam de "realidade" é a realidade imediata, aparente, neste momento presente, e concreta. Todavia essas são apenas algumas partes da realidade, e se quisermos que a realidade seja completa, temos que compreende-la sucessivamente em uma inteireza cada vez maior.

As três propriedades da realidade são objeto de constante debate, quando se invocam os fatos e o que é objetivo como sendo formas superiores da realidade. Na verdade são aspectos igualmente relevantes, a realidade física, ou concreta, a realidade abstrata, formada por ideias, e a realidade pessoal, tanto intrassubjetiva como intersubjetiva, formada pelas experiências do sujeito.

Assim, os fatos que existem independentes de nós (realidade física), as ideias (realidade abstrata), e o que experenciamos como indivíduos e coletividade (realidade subjetiva) são intrinsecamente existentes e formadores dos fenômenos das realidades que compõem a realidade maior (a realidade como ela é), na qual nos inserimos sem que qualquer desses aspectos possa clamar superioridade absoluta (que não dependa de um certo contexto) sobre os outros e muito menos exclusividade na definição do que é” a realidade. 

O fato de que a realidade, na prática, não pode ser separada em suas propriedades (embora possa ser separada em realidades menores), não impede que em teoria, ou em ambientes controlados, façamos distinção e tentemos isolar seus aspectos componentes.


O primeiro fundamento - a existência - para entender melhor a realidade como ela é nos leva a reconhecer as coisas como são, antes de simplesmente dizermos que elas são de um certo jeito (o que queremos que sejam) ou que elas devam ser diferentes.


A realidade é maior - maior que nossas opiniões, crenças e ideias - mas ao mesmo tempo compreende essas mesmas opiniões, crenças e ideias. Antes mesmo de nos posicionarmos sobre em que condição se dá essa compreensão - se as ideias vêm antes ou depois - prevalece a verdade de que o que achamos existe junto com a realidade”, venha antes (como os preconceitos) ou depois (como a racionalização) do objeto de nossa análise.



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Realidade concreta.

Número: 28.

Sigla: RCON

Explicação do que não é: A realidade concreta não é apenas a realidade tangível, que podemos ver e tocar. Muito da realidade física está distante demais (estrelas), é pequeno demais (elétrons) ou grande demais para que eu o apreenda.

Termos semelhantes: aspecto concreto, propriedade concreta da realidade, realidade física, 

Explicação do que é: É a realidade dos fatos físicos, que independem da nossa compreensão para serem como são. É a realidade tangível, seja para nossos sentidos, seja para os instrumentos que criamos para constatá-la e mensurá-la.

Métodos análogos e referências: As ciências exatas são o método privilegiado para o reconhecimento e reinvenção da realidade concreta.

Aspectos relacionados. Espaço, tempo/realidade temporal, posições e direções são subaspectos, ao passo que a realidade abstrata, a realidade pessoal e a realidade temporal se conjugam com a realidade concreta para formar as três propriedades da realidade.

A realidade concreta se mistura com outras porque ao tocar uma pintura mistura-se com a abstração, ao ver um filme de romance mistura-se com as emoções que sentimos. Assim, embora a realidade concreta seja aquilo que posso constatar, testar, verificar, mensurar, reproduzir, prever, na prática ela está amalgamada com outros aspectos da realidade. 

As coisas podem ser concretas e intangíveis (nível molecular, física quântica, espectros de luz e sons que não captamos etc.) e tangíveis e não concretas (sentimentos de amor, dor, saudades, simpatia, intuições, sofrimento, lembranças pessoais, convicção etc.). 

Por outro lado, as coisas subjetivas também podem ser intangíveis, a própria experiência (inconsciente por exemplo) pode ser intangível ao indivíduo.

A realidade concreta é mutável e se olharmos, por exemplo, para um ovo, que existe fisicamente, a cada dia ele é menos ovo e mais pássaro. então a realidade concreta evolui no tempo, mas não deixa de ser realidade por variar sua forma (de ovo a pássaro) conforme sua propriedade temporal.



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A realidade em seu aspecto temporal, que é um componente da realidade concreta, oscila entre seu estado passado, presente e futuro. Assim, algo que foi mas não é mais (uma cidade destruída por exemplo) é parte da realidade em seu aspecto passado, e existe como memória, cultura, princípio. Algo que virá a ser, que já existe como possibilidade, também é parte da realidade, mas como propriedade futura. 



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O que foi existe como passado, o que é existe como presente, o que será existe como futuro.


A realidade, aquilo que é, é sempre real e existente, ainda que sua forma e aparência não se conserve e não seja permanente para sempre, e varie sua estrutura conforme altera-se o modo temporal - passado, presente, futuro.  


Como já vimos, a realidade se manifesta em diversos modos temporais Assim, precisamos saber que a realidade passada (o que já ocorreu), a realidade presente (a situação atual das coisas) e a realidade futura (as situações potenciais, ou prováveis, que podem vir a se manifestar) são espécies temporais da realidade. 


Assim, não devemos confundir a permanência de um estado no qual um aspecto se manifesta com a existência deste próprio aspecto. 


A realidade passada (o que já ocorreu), a realidade presente (o estado atual das coisas) e a realidade futura (as coisas possíveis e prováveis, que podem vir a se manifestar) são diferentes formas, temporais, de manifestação da realidade. 

O império romano por exemplo era mais real quando existia no passado, do que agora, no presente, com suas repercussões na Itália e na Europa? A resposta é sim, mas porque era mais real quando existia como passado, presente e futuro, como uma realidade maior, em comparação com os dias atuais, nos quais sua existência se manifesta apenas na forma temporal passada. 


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Reconhecer o passado, presente, futuro,  e reinventá-los.


O reconhecimento e a reinvenção da realidade temporal, assim como dos demais aspectos, são habilidades fundamentais para nossa convivência em sociedade. 

No caso isso significa reconhecermos aceitarmos nosso passado, de onde viemos, nosso presente, nossa situação atual, e nosso futuro, nossas possibilidade.

E com isso sermos capazes de reinventar nosso passado (ressignificá-lo), nosso presente (para vê-lo "com outros olhos", e nosso futuro (para, dentre todas as possibilidades existentes, buscar outras, novas, para realizá-las).

A Constelação Familiar é um método de formação dessas habilidades de aceitação do passado e criação de um novo presente e futuro. Com ela aprendemos a para de nos debater com o passado, verbalizando para as situações que nos incomodaram e incomodam que 



- “Apassado cabe o que pôde ser feito."



- "Apresente cabe... é o que tem para hoje.”



- "Ao futuro cabem as possibilidades que poderão se realizar."


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Quem tem pressa, come cru.

Uma questão-chave para a qual a realidade temporal contribui é tratar do imediatismo que normalmente nos acomete nas situações em que somos imaturos. Quanto mais ansiosos e inseguros em algo, mais queremos isso resolvido imediatamente, ignorando o impacto da realidade passada (e o que ela demanda de nós) e ignorando o futuro, o comportamento sustentável que se demanda de nós para fazer grandes transformações e alcançar grandes resultados.

Às vezes o que há é um simples desconhecimento da prioridade que se deve dar para os objetivos de longo prazo:


 O melhor momento para plantar uma árvore foi há 20 anos. 

o segundo melhor momento é agora.


Eduardo Giannetti na obra auto-engano aborda o tema de uma forma muito interessante. Ele diz que dentro de cada um de nós existem dois eus (convergente com a teoria junguiano da multiplicidade do nosso ego), o eu-agora e o eu-depois.


O eu-agora é um jovem, afoito, cheio de energia e tesão pela vida. Quer fazer tudo agora, não se ressente do passado ou teme o futuro. Quer tomar o mundo em suas mãos, enfrentar os inimigos, conquistar a donzela, viver paixões e, enfim, consumir-se no presente.


Já o eu-depois é um velho, cansado, medroso, cheio de lembranças do que não deu certo, precavido com os perigos da vida, quer fazer as coisas com calma, lentamente, controladamente, de forma sustentável, poupar hoje para ter no futuro.


Assim, nossa realidade pessoal, neste aspecto temporal, na alegoria de Giannetti, é composta do jogo de forças e contraforças que ocorre entre o eu-agora e o eu-depois, entre a satisfação imediata de um desejo e o planejamento racional para realizá-lo no futuro com mais segurança. Eu acrescentaria que essas forças, do passado, presente e futuro, estão em tensão não somente dentro de cada um de nós, mas também na realidade intersubjetiva, na nossa convivência.




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O tempo que passa e o tempo que não passa.

A visão linear do tempo faz com que o vejamos como um asteróide que passa pela Terra para não mais voltar, como se o passado tivesse ido embora, desaparecido. E assim sucessivamente, com os tempos presentes que viram passado, e com os tempos futuros que viram presente.

A visão simultânea do tempo faz com que o vejamos como as camadas de uma cebola, como uma cidade que foi construída sobre outra cidade, que foi construída sobre outra cidade, como algumas descobertas arqueológicas nos mostram.

Pela visão linear, a criança que fomos, e depois o jovem adulto que fomos, ambos não existem mais, fazem parte de um passado apagado da existência. Para nós contudo, não apenas mas também pelo fundamento da existência, todos os aspectos temporais existem simultaneamente, como as camadas internas, intermediárias e externas de uma cebola, que estão todas presentes, cada qual em seu espaço e com sua função, cada qual a sua maneira em nossa vida.

O tempo linear pode ser simbolizado com uma linha contínua na qual futuro e passado são espectros e apenas o presente é real (na verdade, é atual):  


[passado]-----------------------------presente---------------------------------[futuro]


Uma boa forma de ilustrar o tempo simultâneo, bem mais real que o tempo linear, é utilizando o gráfico de 

Gantt, que combina o tempo linear de um evento que tem começo, meio e fim, com outros tempos lineares, formando assim um tempo cumulativo que se manifesta em paralelo por meio de diversas linhas.


Nele podemos ainda apontar a realidade passada que ficou no passado (rpas/rpas), a realidade passada que se mantém no presente (ou seus efeitos) (rpas/rpre), a realidade atual que está apenas no presente (rpre/rpre, como sábio que medita), a realidade futura que já se manifesta no presente (rpre/rfut) e a realidade futura que ainda não chegou (rfut/rfut). 


Nesse quadro, cada realidade, cada aspecto, pode ser colocado em paralelo aos outros, registrando as etapas temporais em que aparece, inclusive de forma intermitente (como ocorre nos ciclos e oscilações), e com isso conseguimos bem representar a coexistência dos aspectos temporais:




RPAS/RPAS     RPAS/RPRE RPRE/RPRE     RPRE/RFUT     RFUT-RFUT




A     ————

B     ———— ————————————-

C —————-

————————————————————

——————————————

F ———————————————————

G —————

H —————————————————————————————————-

Etc.




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Realidade abstrata.


O mapa não é o território.

- Alfred Korzybski


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Pensar é esquecer diferenças, é generalizar, abstrair. 


- Jorge Luis Borges



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Ao generalizar ganho em abrangência abstrata mas perco em diferenciação concreta.

A realidade abstrata é a dimensão da realidade na qual fazemos as generalizações sobre a realidade. Assim, em vez de eu falar sobre Maria Terezinha Rodrigues de Souza, minha mãe, eu falo sobre "as mães". Em vez de eu falar sobre os livros que vejo agora (em 10/12/2022) em cima da mesa da sala do meu apartamento, eu falo sobre "os livros". 

Falo sobre os políticos em vez de falar sobre aquele ao qual me refiro ou aquele que apareceu no jornal de hoje na hora do almoço. Falo sobre os pobres e não sobre a senhora que vi anteontem na rua ao retornar para casa. Falo sobre os ricos e não sobre o empresário do varejo que conheço e que acorda todo dia as 5h da manhã para sua longa rotina.


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Em teoria não existe nenhuma diferença entre a teoria e a prática. 

Na prática existe.

-  Yogi Berra.


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No famoso quadro de Magritte está escrito: Isso não é um cachimo.

O jogo, entre um cachimbo abstrato, pintado, e o cachimbo concreto, aquele que você pode usar para fumar, é o objeto desta provocação.

Fonte da imagem e análise do quadro: https://arteeartistas.com.br/a-traicao-das-imagens-de-rene-magritte/ 


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Não podemos impedir que um pássaro pouse em nossas cabeças, 


mas podemos impedi-lo de fazer ninho.


- Bíblia sagrada cristã



As ideias nos ocorrem, por vezes inesperada e descontroladamente, passando um período de tempo no qual elas "nos habitam". Mas "nossas" ideias não somos nós, nós somos algo diferente delas.



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Minha cabeça só pensa aquilo que ela aprendeu, 


por isso mesmo eu não confio nela eu sou mais eu...


- Raul Seixas



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 Tudo bem você ter opinião, 


o problema é você confiar nela. 


-  Howard Marks



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Sabemos (eu que escrevo, você que lê, e os demais) quase nada do que há para saber.


O mundo, o espaço e o tempo são infinitamente grandes, e, portanto, nossa capacidade mental, cognitiva e mnemônica para aprender, processar e guardar informações sobre esse mundo é infinitamente pequena. 


Por isso nossas representações da realidade são pobres, limitadas, genéricas, estáticas, porque não temos capacidade individual de compreender e representar a realidade como ela é, em sua completude, variedade e complexidade. E o mesmo serve para nossa limitada capacidade de agir, intervir e controlar o mundo.



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Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo. 

- Wittgenstein


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Realidade pessoal.


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Não sou aquele que sabe, mas aquele que busca. 

- Hermann Hesse


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Estou viajando pela Ásia e num restaurante local como uma iguaria deliciosa, um sabor sutil e agradável. Até eu perguntar ao cozinheiro o que é aquela comida típica e ele me responder que é cérebro de macaco. Imediatamente sinto um mal-estar, refluxo e um gosto estranho na boca. 

Qual dos dois gostos da comida, o de antes, quando eu apreciava o paladar, ou o de depois, no qual eu senti nojo, é verdadeiro? A resposta é que tanto a realidade concreta, o sabor da comida, quanto a realidade abstrata, do que e como ela é feita, influenciam a realidade pessoal, o paladar que eu sinto ao prová-la. 


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Uma grama de exemplos vale mais que uma tonelada de conselhos.


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Conjunção da realidade abstrata - um enunciado - com a realidade pessoal - a pessoa que o enuncia.

Uma boa possibilidade é usar o critério de Michael Polanyi, o conhecimento pessoal: o conhecimento endossado, acreditado e levado a sério pessoalmente por alguém. Para nós tanto faz se ele tem uma pretensão universal (se refere à realidade concreta) ou se não (tem forte presença da realidade pessoal). 


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Enquanto você reza, vá fazendo.



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Todos os ganhos sociais, culturais, científicos, tecnológicos etc, que como civilização alcançamos e que nos permitem como sociedade compreender e agir em escala infinitamente maior do que somos individualmente capazes (tente viver sozinho numa floresta sem nada que você não tenha feito com suas próprias mão para ver), podem nos confundir e dar a impressão que essa capacidade é individual.

Pior, talvez esses objetos da cultura sejam usados pelas pessoas para, erroneamente, alimentar a ideia de somos onipresentes (não há mistério no mundo, embora eu nem tenha saído da minha cidade natal, porque já vi tudo na internet), onisciência (qualquer coisa que eu não saiba posso pesquisar no google e ficar sabendo na hora) e onipotência (juventude, dinheiro e status têm mais chances de levar a esse erro sobre a própria condição pessoal na realidade).


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Falar de touros não é a mesma coisa que entrar na arena.



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Interações do concreto, abstrato e pessoal.


 Se escrevermos uma lista das coisas que estão na nossa mala de viagem, essa lista (concreta) enumera e descreve (abstratamente) uma realidade concreta (as coisas na mala). Nem por isso devemos pensar que uma determina a outra, como no caso de uma detalhada programação a ser seguida numa viagem numa zona em conflito: 


A teoria na prática é outra.



No clássico debate sobre o que determina nossas vidas, se é nossa realidade pessoal ou a realidade concreta que nos cerca, a melhor resposta já foi dada:



 Eu sou eu e minhas circunstâncias.


- Ortega y Gasset



Os impactos das realidades uma nas outras, ora são efêmeros, ora são permanentes:



Nenhuma mente que se abre para uma nova ideia voltará a ter o tamanho original.



Num certo contexto e situação é uma realidade pode tranquilamente prevalecer sobre outras, como no caso abaixo entre a realidade abstrata e a concreta:



Nós sofremos mais na imaginação do que na realidade.


— Seneca



Mas as realidades são igualmente capazes de se reforçarem e expandirem uma na conjunção com a outra:



Todo o nosso conhecimento se inicia com sentimentos. 



- Leonardo da Vinci



A realidade concreta se encontra com a abstrata e com a pessoal, por exemplo, todas as vezes que pensamos (abstração) sobre um local que já visitamos, um local onde nos planejamos para ir, um objeto que procuramos em nossa casa e assim por diante. O aspecto pessoal está em nós pensamos.


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Experiência não é o que passamos, 


é o que fazemos com aquilo que passamos.



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Aqui você encontra a lista de todos os aspectos da teoria e pode usá-la para navegar por eles.


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Imagem 1:Foto de Vanessa Loring: https://www.pexels.com/pt-br/foto/queijo-fatiado-em-tigela-de-ceramica-branca-5971864/

Imagem 2:Dominika Roseclay:  https://www.pexels.com/pt-br/foto/pessoa-vestindo-sueter-bege-segurando-um-mapa-dentro-do-veiculo-1252500/



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