O Ser e seus Estados

O Ser e seus Estados é o 5o Enfoque da Razão Generosa.

A discussão sobre o ser é considerada por muitos uma questão metafísica, indefinida, inútil até. Mas não é.

Se não diferenciamos com clareza o ser de seus estados, nosso senso de realidade se torna frágil e facilmente manipulável, pois passamos a confundir o estado de uma coisa com o seu ser, sua existência, sua essência imutável, aquela que permanece independentemente da forma, modo ou estado atual da realidade. Aquela à qual se refere o ditado:

"Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma" - Lavoisier 

O enfoque do ser e seus estados é, evidentemente, composto de dois aspectos.

Em primeiro lugar, o Ser, que é a manifestação da Existência. No ser ocorre o encontro, a dança, a relação mais ou menos fugaz da existência com os estados. A Existência  é o primeiro fundamento da Razão Generosa. Em segundo lugar, os Estados, que são a manifestação do Ser.

O ser aparece quando uma parte da existência ganha um contorno ou uma identidade própria. 

E por ser parte da existência, o ser tem a mesma natureza que ela, tal como não ser limitado pelo tempo passado, presente ou futuro; e não ser limitado pelo modo que se manifesta na realidade, seja concreto, abstrato, pessoal, ou qualquer outro modo.

Um dos nossos erros de percepção mais comuns é confundir o estados de um ser com a sua existência. Com isso, perdemos o chão sob nossos pés, porque aquilo que acreditávamos que seria imutável, sempre acaba por mudar.

Enfim, quando confundimos o que pertence ao ser com o que pertence aos estados, perdemos a referência do que é real no mundo. O real, é tanto a existência do ser, que simplesmente é, quanto seus estados, que variam constantemente. 

E se aceitamos uma existência que é imutável, podemos aceitar em paz o segundo fundamento da realidade, que é a Variação, pois sabemos que uma parte da realidade permanece sendo ela, a existência, mesmo que as outras partes variem.

Vejam que o problema da "verdadeira essência" das coisas é muito antigo e, na medida que se acredita nela, há incontáveis boas explicações para o que é tal essência. A "alma" é uma explicação do que permanece e é imutável em nós. As "ideias", as abstrações, são a explicação de Platão para o que permanece e é imutável. Há outras explicações ainda.

Para a Razão Generosa, o atemporal, perfeito, imutável, é a Existência. A existência comporta todas as outras explicações do que é atemporal, perfeito e imutável. São como facetas do mesmo diamante. A alma existe, Deus existe, Alah existe, o materialismo existe, o platonismo existe, tudo existe (conforme afirma o fundamento da existência), e isso basta. 

Minha mãe, Maria Terezinha, é (ela existe), embora ela já tenha tido vários estados diferentes: como possibilidade futura (quando ainda era um embrião), como estado presente (durante o tempo que esteve viva em sua jornada terrestre), e como estado passado (como memória afetiva e amalgamada nas repercussões que sua passagem deixou neste mundo). Ela pode ter adotado outros estados intangíveis ainda, os quais não consigo alcançar. A biologia dá uma explicação, ela transformada, agora, habita e integra novas partes de vida. A religião dá muitas. 

A lição primordial é que, o que existe, varia. E aí chegamos aos estados. Esses são os diversos modos, formas, estruturas, fases, facetas e  aspectos dos quais o ser se reveste ao se manifestar na realidade. 

Aquilo que é intangível, tudo aquilo que é maior do que somos capazes de perceber com nossas limitações cognitivas e emocionais, raramente se apresenta desnudo para nós, pois quando o vemos está sempre vestido com uma certa forma, está sempre a se apresentar num certo estado.

Podemos ter vários tipos de estados, mas queremos aqui destacar alguns que são primordiais.

O primeiro e mais importante estado é o estado atual. Quando não aprofundamos nossa reflexão e reconhecimento é sempre esse estado que é confundido com o ser

O estado atual é o estado imediato, que se faz o mais evidente aos nossos sentidos. O estado atual se manifesta na realidade presente, no momento atual, e também costuma ser o que se apresenta "aqui" em minha frente, aquilo que se faz tangível, dentre uma infinidade de seres e estados que permanece intangível para mim naquele mesmo momento.

Após o estado atual, os mais significativos são os estados possíveis. E num mundo grande, inclusivo, diverso, onde tudo existe, todos os estados possíveis existem... como possibilidade. 

E quando dizemos que não é possível que invasores extraterrestres aportem hoje no Planeta Terra, queremos dizer que isso é improvável, ou que é impossibilidade na dimensão concreta (e não na dimensão abstrata, onde já existe a ideia só de ela ter sido enunciada). 

Aliás, "isto não existe" é uma expressão que cria (verbalmente, por escrito, abstratamente) aquilo ao qual nega a existência. É uma existência negada (por alguém), mas não deixa. de ser existência.

Chegando um pouco mais perto da prática e da nossa experiência diária, os estados prováveis são a forma racional de nos referirmos à realidade. "Provavelmente vou estar vivo amanhã", "provavelmente quem está lendo este texto está lendo num aparelho eletrônico", e por aí vai. Assim, é mais racional entender o estado atual como o estado mais provável (caso confiemos em nossos sentidos), do que como um estado de certeza daquilo que vejo, escuto, entendo, penso etc.


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Aqui você encontra a lista de todos os aspectos da teoria e pode usá-la para navegar por eles.


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