Como vimos antes nos fundamentos, cada um deles pode ser apresentado de forma sintética por meio de algumas fórmulas.
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“Sábio é quem se contenta com o espetáculo do mundo” - Fernando pessoa.
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Tudo existe!
O primeiro fundamento, da Existência, afirma que tudo existe na realidade. Algumas coisas como memórias do passado, outras como presente imediato, outras como projeções nossas para o futuro. Algumas histórias existem com a pretensão de serem literais (como os documentários), outras existem sem ter essa pretensão como essencial, a ficção. O universo é grande demais para sabermos tudo o que existe.
O princípio da existência nos convoca a aceitar a realidade como ela é. Em sua totalidade e em suas diferenças.
Devemos reconhecê-la como existente inclusive, na verdade principalmente, nas coisas que nos desagradam, pois negá-la é negar o ponto de partida realista de onde estamos e, portanto, inviabilizar o traçado de um trajeto válido para um outro lugar onde queremos chegar.
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“O destino conduz o que consente e arrasta o que resiste.” - Sêneca.
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Reconhecer e reinventar a existência.
Este princípio tem forte caráter fenomenológico e trabalha a favor de nossa compreensão do mundo no qual nos inserimos. Este princípio afirma o que é, a existência, seja dos fenômenos, das ideias, opiniões, experiências, e assim por diante.
À existência, assim como aos demais fundamentos, nos cabe fazer essencialmente duas coisas: Reconhecer e reinventar. Reconhecer quer dizer observar e aceitar que as coisas são como são, concordemos ou não com elas. Reinventar quer dizer que, a partir de tudo o que existe, outras possibilidades também podem se tornar atuais, para além dessa imediata que vejo e que não desejo. A primeira não deixará de existir - tudo existe - mas podemos construir uma nova história, afinal:
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Afinal, mesmo que neguemos que algo existe, aquilo existe, no mínimo, como uma ideia mantida acesa em nossa mente. Nesse enfoque, podemos dizer que temos dois tipos de existência: a existência na forma afirmada, e a existência na forma negada (a inexistência).
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“Quando um sábio olha para o nada ele vislumbra o tudo!
Não há espaço vazio para a expansão robusta do saber.”
- Valéria Nunes de Almeida e Almeida.
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É certo contudo que, sem recorrer ao paradigma da religião, temos dificuldade de aceitar a existência de um ser intangível que existe distintamente do ente tangível por meio do qual se manifesta (uma tema priorizado pelo filósofo Martin Heidegger).
Retoricamente podemos responder que o ser, a imanência dos entes, não é visto sem seu invólucro da mesma forma que não vemos as pessoas nuas na rua sem as suas roupas.
E a tentativa de analisar cientificamente, e a tentativa de sintetizar espiritualmente, para chegar-se à essência das coisas, ultrapassando-se o simples reconhecimento da existência, é equivalente a tentativa de conquistar o horizonte, inútil, pois "a existência é como o horizonte: quando nos aproximamos, ela continua lá, quando nos afastamos, ela continua lá".
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“A sabedoria tem premissa na observação de que tudo está vivo, Mahahrdaya ensina pelo trabalho o valor de que tudo existe, a ilusão em Maya também existe, o invisível existe, o visível existe, assim como o prana do universo existe, o prana planetário existe, nada um dia imaginado, ou não conhecido, está fora do existir, tudo está interligado, logo, tudo existe para todos.”
- Mahahrdaya Vishnulaktare)
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A existência é perfeita em si, não importa (para ela) se a tratamos assim ou não.
Para nós importa.
Um dos desafios de reconhecer a existência como ela é está em se confundir duradouro, perfeito, completo, verdadeiro, atual - todos esses aspectos relevantes - com a existência, que vem antes deles, que os transcende, e que os fundamenta..
Até os mestres estão continuamente tropeçando nesta lição. Na verdade, naquilo que somos maduros, temos a reconhecer a existência sem lutar contra ela, e o contrário acontece naquilo que somos imaturos e inseguros.
No filme O Último Samurai, Katsumoto - o último samurai - (não, Tom Cruise não é o último samurai) está no jardim e conversa com seu hóspede americano.
Ele diz: "A flor perfeita é rara, você pode passar a vida inteira procurando e não seria um desperdício.” Muita ação se passa nessa dramatização da derrocada dos samurais no Japão.
Ao final, no campo de batalha, todos companheiros de Katsumoto morreram e ele também está passando desta para "a melhor" após ser mortalmente ferido por uma poderosa arma de fogo moderna.
Ele se apoia em seu amigo americano, que lhe ajuda a pegar sua espada e a cometer o harakiri para morrer com honra, por suas próprias mãos. A espada penetra seu intestino, em seus últimos suspiros Katsumoto olha para um campo florido e reconhece: “Perfeitas. Todas são perfeitas”.
A legenda do momento poderia ser: "A perfeição está na existência. tudo o que existe é perfeito".
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Provérbio Adinkra:
Ubuntu: sou o que sou porque nós somos.
Por ora costumo ver a existência costuma ser um fundamento imanente que de certa forma precede aos demais.
Todavia, com essa contribuição acima, da minha amiga Sonelise Cizoto, percebo que o pertencimento também forma a existência, em certa medida, quando sou o que sou porque nós somos.
Essa reflexão parece abrir o fundamento da existência para ser desdobrado, para além de seu papel original, como novas existências que talvez decorram da variação, do pertencimento, da autonomia e das forças e contraforças.
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O fato de o reconhecimento da existência ser o primeiro fundamento, ou seja, a primeira coisa que devemos fazer é perceber as coisas como são, implica também a orientação de que devemos suspender o julgamento e adiá-lo, e que ele não deve acontecer antes, ou mesmo durante a percepção da realidade, que é o primeiro passo.
Ou seja, os métodos que indicam a suspensão do julgamento do que é bom ou mal, certo ou errado, justo ou injusto, como um princípio para alcançarmos uma melhor compreensão do mundo, estão dizendo a mesma coisa de uma forma diferente: o primeiro passo é reconhecer a realidade como ela é, sem julgamentos. o julgamento vem depois.
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*autor desconhecido (para mim pelo menos). PS1: Não, ela não estava drogada. PS2: Não, ela não demorou porque estava procurando uma boa resposta no Google, rs.
Crédito da imagem: Tomas Anunziata: https://www.pexels.com/pt-br/foto/estrada-de-concreto-preto-durante-a-noite-412026/
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Aplicando a existência à realidade como ela é, concluímos o que?
O fundamento da existência ao se desdobrar e aplicar-se aos demais aspectos da realidade como ela é gera conclusões tais como:
A realidade não é apenas concreta, mas também abstrata.
A realidade abstrata é tão real quanto a realidade concreta.
A realidade é maior do que apenas a realidade concreta.
A realidade não é apenas presente, mas também passada e futura.
A realidade não é apenas tangível, mas também intangível, e tem as duas dimensões.
A realidade é feita tanto do que é perene nas coisas quanto dos estados em que as coisas se encontram.
A realidade não é feita apenas daquilo que é atual, mas também daquilo que é possível.
A realidade é feita do que acreditamos e do que não acreditamos.
A realidade não é apenas feita do que aceitamos, mas também do que não aceitamos.
A realidade não é apenas feita do que entendemos, mas também do que não entendemos.
A realidade não é apenas o que a gente admite que ela é, mas também o que não admitimos.
A realidade do que somos é feita também de tudo aquilo que não sabemos sobre nós.
A realidade não é feita apenas do que acreditamos, mas também do que os outros acreditam.
A realidade pessoal é formada tanto pelos sentimentos quanto pela percepção.
A realidade pessoal é formada tanto pela realidade externa quanto pela realidade interna.
A realidade é compreendida tanto pela abordagem disciplinada quanto pela indisciplinada.
A realidade é tanto técnica quanto científica, moral, política, religiosa, filosófica e artística.
A realidade é tanto aquilo que muda quanto aquilo que permanece.
A realidade é feita tanto de semelhanças quanto de diferenças.
Os caminhos trilhados são formados tanto pelo fim, quanto pelo princípio, quanto pelos meios adotados.
A realidade é construída tanto pela autonomia quanto pelo pertencimento.
A realidade é constituída tanto do que é absoluto quanto do que é relativo.
A realidade se realiza tanto pela inclusão quanto pela exclusão.
A realidade é formada tanto por forças quanto por contraforças.
A realidade se realiza tanto pela ordem como pela desordem.
A realidade da parte é tão real quanto a realidade do todo.
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