Pertencimento


Tudo está conectado

O fundamento do pertencimento trata das relações estabelecidas entre tudo o que existe no mundo. Certos grupos de conexões se agregam e formam um todo maior, ao qual suas partes pertencem, ainda que mantenham autonomia em relação a certos aspectos em face do todo maior que compõem.

O princípio do pertencimento fala das conexões que se estabelecem entre o que existe, incentiva a inclusão dos seres, amplia nossa visão e nos veda o atalho de procurar a solução de um problema na exclusão do que nos desagrada.

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Graus de pertencimento.

O pertencimento tem vários graus possíveis, iniciando-se na convergência de aspectos diferentes que vão formando relações cada vez mais profundas, a ponto de criarem um todo maior ao qual passam a pertencer como partes (numa visão de síntese). Ou as partes vão se especificando e se distinguindo do todo/fonte original, mantendo contudo algumas relações fundamentais que as conectam à fonte (numa visão de análise). 

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Pertencimento: O mais importante fundamento. Assim como os outros quatro.

O pertencimento é o que há de mais importante na realidade. Assim como a existência, a variação, a autonomia e a dinâmica de forças. Cada um, em si, por si, para si, para fazer um retrato íntegro (embora incompleto) da realidade como ela é.

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As coisas existem. As coisas pertencem.


Quando falamos do pertencimento e da existência, percebemos que a existência inclui tudo, todas as coisas concretas, abstratas e pessoais existentes na realidade, sendo essa o sistema máximo e infinito - onde tudo está conectado. 


Mas a existência não diz como cada uma dessas partes integrantes da realidade se relaciona com as demais. Quem trata disso é o pertencimento, que forma essas relações e todos os subsistemas que compõem o sistema final - o multiverso da vida.


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Pertencimento versus variação.


O pertencimento e a variação convivem em tensão (como, aliás, todos os fundamentos). Por um lado, a variação destrói as velhas conexões e forma as novas, fazendo com que o pertencimento e o sistema sejam dinâmicos e não estáticos. Por outro, o pertencimento limita a variação porque aquilo que é comum não varia apenas porque uma das partes deseja. Assim como a variação e a variedade tornam mais desafiante e complexo o pertencimento, principalmente se esse preserva as diferenças das partes que são agregadas num todo maior.


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Pertencimento: o centro descentralizado.


A autonomia torna cada aspecto da realidade no centro de seu próprio universo/sistema. Queiramos ou não, somos o centro do nosso mundo, mesmo quando decidimos que não somos. O pertencimento conecta as autonomias das partes e as recentraliza em torno de um sistema maior formado a partir de sistemas menores.


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O pertencimento e as forças e contraforças.


E por fim, o pertencimento e as forças/contraforças conjugam-se muito naturalmente, porque o pertencimento estabelece as conexões e sua polaridade, mas a intensidade, balanceamento e evolução delas se dão por decorrência do fundamento das forças e contraforças.


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O pertencimento e os domínios da realidade.


Aí, vistas as relações do pertencimento com os fundamentos, vale também vê-las com os demais domínios (jogo, aspectos e é sobre mim).


A relação do pertencimento com o jogo da realidade pode ser melhor entendida se nos referimos ao jogo de quebra-cabeças, no qual temos a intenção de formar uma realidade maior que as partes (a imagem) e aí, para isso, precisamos de todas as partes (nenhuma pode ser excluída) e cada uma deve ser posta em sua exata posição (que implica saber as relações de vizinhança com as demais peças).


Em vista do pertencimento ser um fundamento da realidade, sua relação com os demais aspectos aparece em todos os momentos e situações. 


Assim, exemplificativamente, existe a relação orgânica entre o pertencimento e os aspectos da inclusão e exclusão, que ao agirem determinam efetivamente o que está incluído e o que está excluído de cada grupo de relações. 


O pertencimento também relaciona-se ao aumento da abrangência da nossa percepção (zoom out) e à restrição/concentração da nossa percepção (zoom in), que formam uma das duplas de aspectos. Outra dupla, as partes e o todo, está totalmente associada visto que o que o pertencimento relaciona são as partes e com isso o que ele forma é um todo maior, o qual em si vai ser parte, junto com outras, de outro todo maior, e assim por diante.


Por fim, a junção do pertencimento e do domínio que trata sobre mim (sobre cada um de nós em particular), traz o espaço onde cada um de nós deve trabalhar a nossa relação com o pertencimento e com as relações que nos envolvem.


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Várias formas de pertencer.


Sobre o pertencimento podemos também dizer que tudo está conectado, seja positivamente (por uma relação de inclusão), seja negativamente (por uma relação de exclusão). A hipótese mais comum contudo é de que o pertencimento é apenas formado por relações de inclusão e a exclusão coloca os aspectos fora do pertencimento de um dado sistema.

 

O pertencimento não quer dizer apenas que uma coisa está contida em outra coisa maior (esse é apenas o pertencimento espacial-físico das coisas) e sim que algo pode estar conectado a outros aspectos (concretos, abstratos ou pessoais) de diversas formas, formando um todo maior. 


Podemos falar também em pertencimento que liberta e pertencimento que aprisiona. Em relações saudáveis ou relações tóxicas entre aspectos da realidade.



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Um berço do pertencimento: a constelação familiar de Bert Hellinger.


A constelação familiar, um competentíssimo método terapêutico, aborda essas exclusões como a causa de muitas disfuncionalidades e as aborda com a expressão "você também faz parte!", inclusive para as coisas ruins de nossas vidas. A constelação é um dos métodos de formação que pode nos ajudar a desenvolver nossas habilidades pessoais para ter uma vida melhor.



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Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo.


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O pertencimento no cotidiano social.

A gravidade da pena de banimento, ao longo da história, é outra afirmação da importância do pertencimento. E mesmo a pena de prisão, é uma restrição séria a esse fundamento. Participar de uma torcida organizada ou ter um time, ter um partido ou ideologia política com a qual nos identificamos, integrar uma organização, ser natural de uma cidade, de um estado, de um país, pertencer a um grupo social, econômico, étnico... tudo são pertencimentos que se cruzam e superpõem num emaranhado de relações.


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O pertencer como habilidade para nossas vidas.


Tornar o fundamento do pertencimento numa habilidade por meio de uma formação implica um objetivo pedagógico de desautomatizar a nossa intuição de que a autonomia de cada coisa (abstrata, concreta ou pessoal) que existe implica em que ela não está conectada e que não é influenciada pelos demais aspectos da realidade. Ou seja, precisamos afastar a ilusão de que o estado de uma coisa é determinado apenas por ela mesma.


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Pertencimento versus autonomia.


O pertencimento serve também para que reconheçamos que o que torna semelhantes as coisas diferentes é a sua semelhança perante um todo maior, ao qual integram, e que lhes é comum.


De certa forma o pertencimento é "o oposto da autonomia", ou, dito de outra forma, o pertencimento das partes reequilibra a relação em desfavor da autonomia das partes e em favor da autonomia do todo.


Todo fundamento - seja o pertencimento, sejam os outros - precisa de uma medida certa em cada situação para tornar a nossa vida melhor. Na medida errada pode torná-la pior. É só a situação real, vivida e centrada na própria pessoa, que é o protagonista do seu próprio universo, que podem ser determinadas as medidas de cada fundamento a cada momento.

O pertencimento que não consegue harmonizar as diferenças (o que é diferente de eliminá-las, sufocá-las ou ignorá-las) é ilustrado na imagem de vários ocupantes de um mesmo bote sendo que cada um rema em uma direção diferente. Numa escala muito mais complexa, isso coloca em risco inclusive a nossa própria existência na sociedade atual com todas as conquistas que alcançamos e tornam a nossa vida mais fácil: "Estamos perdendo as habilidades de cooperação necessárias para o funcionamento de uma sociedade complexa" (SENNETT: 2012, p. 20)


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Todo o propósito da divisão é enriquecer a união. 

- Iain McGilchrist


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O pertencimento no livro do "emaranhado do bem comum".

O princípio do pertencimento já estava presente no meu livro publicado em 2017 - A jornada no emaranhado do bem comum. Lá já falávamos das conexões que se estabelecem entre o que existe, o que incentiva a inclusão de todos os seres, amplia nossa visão e nos veda o atalho de procurar a solução de um problema na exclusão do que nos desagrada. A solução passa por reconhecer sua existência e autonomia de tudo o que existe, aceitando as contradições e resolvendo a tensão por meio do equilíbrio circunstancial dos fundamentos.

Outros termos pertinentes, derivados ou análogos ao pertencimento: relações, comum, solidariedade, convergência, integração, colaboração, reciprocidade etc.


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Aqui você encontra a lista de todos os aspectos da teoria e pode usá-la para navegar por eles.


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crédito da imagem:

 Tsunami Green: https://www.pexels.com/pt-br/foto/abstrato-resumo-abstrair-brilhante-5192790/


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