POSTURAS

  

As Posturas são, numa visão geral, a quinta e última classe de aspectos-chave da razão generosa.




Para coexistir com as diferenças,
podemos usar diversas posturas.



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POSTURAS


(onde por acaso se ler 'abordagens' (nome anterior), leia-se Posturas (nome atual)


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A primeira postura é como seu eu estivesse sozinho no mundo.

A segunda postura trata tudo como isso ou aquilo.

A terceira postura  trata tudo como isso e aquilo. E daqui surge a escala.

A quarta postura é a de um por todos e todos por um e busca cada um em sua medida.



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Para conviver com as contradições da vida, que alternativas de comportamento eu tenho?

A questão que enfrentaremos aqui é: quais são as alternativas que temos para enfrentar s contradições da vida?

Como as diferentes posições, visões e perspectivas sobre o mundo podem conviver? Quais as maneiras de abordar essas diferenças que estão a nossa disposição? Esse é o tema do aspecto das posturas.

Na essência temos as seguintes alternativas de comportamento: 

a) agir como se estivesse sozinho no mundo (somu); 

b) quando a alternativa (a) não for mais possível, adotar uma postura tudo ou nada aceitando apenas isso ou aquilo (isoq); 

c) aceitar a coexistência das diferenças, que isso e aquilo (iseq) existem simultaneamente e com igual valor e procurar uma forma de convivência e ponderação entre ambas; e

d) partindo da aceitação simultânea entre isso e aquilo, chegar ao grau máximo de potencial obtenção de ambas as variáveis ao mesmo tempo, buscando cada um em sua medida (caum), cada variável em sua melhor otimização possível.



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Tem gente que trata suas posições como canta o samba: "...daqui não saio, daqui ninguém me tira...".

Quando conheço apenas minha posição e nenhuma outra. Quando apenas o que eu desejo tem valor. Quanto não levo as outras opiniões a sério. Quando não tenho dúvida sobre o que é a verdade, a realidade, o correto e o justo, estou agindo como se estivesse sozinho no mundo, e daí decorre o nome da nossa postura primária das contradições da vida, que é nem mesmo tomar conhecimento delas.

A atitude de estar sozinho no mundo é a postura primária das contradições da realidade. Quando duas pessoas com essa postura se encontram há surpresa e espanto que a outra pessoa não reconheça nossa a verdade evidente e inquestionável da nossa visão de mundo. 



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Quando dois "senhores da verdade" se encontram, o que acontece?

Quando as duas pessoas pensam da mesma forma, como se estivessem sozinhas no mundo e, indignadas com o não reconhecimento da superioridade absoluta de sua posição, passam a negar a negar a existência, validade, correção, verdade, utilidade etc., uma da outra, entramos na segunda postura, denominada isso ou aquilo.

Nessa postura, toda a energia dos defensores das posições polarizadas é utilizada para a afirmação máxima de si e destruição ou invalidação do opositor. 

O resultado desse esforço é que, pelo menos temporariamente, sobra apenas uma posição vencedora, enquanto a outra é ignorada, como se não existisse. A vitória de uma dessas posições é, todavia, instável. E em outro momento essa posição vencedora pode ser superada e negada pela outra.

Assim, alternadamente, as duas podem perder. Como numa democracia, com movimentos de direita e esquerda polarizados, os quais a cada eleição, ora ganha um, ora ganha o outro, e cada movimento que ganha desfaz todas as construções do rival e reconstrói todas as suas, fazendo com que se desperdicem inutilmente todos os valiosos recursos de uma sociedade. 

Ou como numa disputa entre dois pistoleiros, na qual os dois atingem, são atingidos, e morrem. De um jeito ou de outro, essa estreita, rígida e destrutiva disputa entre isso e aquilo leva todos ao pior desfecho possível, onde todos perdem (tope).



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E quando passamos a respeitar a visão do outro, e vice-versa, o que acontece?

O maior ganho de qualidade na forma como disputamos com os outros sobre a verdade do mundo ocorre quando passamos da postura de isso ou aquilo para a postura do isso e aquilo

A diferença essencial entre ambas posturas é que na primeira (1) buscamos eliminar a existência do outro do mundo, embora isso não seja possível, ou invalidar, enfraquecer, desmerecer a posição do rival, enquanto na segunda (2) aceitamos que ambas posições são igualmente existentes e válidas por si, ainda que tenhamos nossas preferências e que, em cada contexto, uma ou outra seja melhor, a depender do resultado que se deseja.

Na postura do isso e aquilo as pessoas param de gastar sua energia para tentar convencer o outro de que ele está errado e de que você está certo, e reconhecem um a existência do outro. A partir daqui poupa-se energia e emprega-se a inteligência para se encontrar alguma forma de coexistência nas diferenças. Aqui aceita-se que isso e aquilo existem, ambos, igualmente, e é preciso acomodar essas contradições de alguma forma.

Quando aceitamos essas realidade, de que as coisas podem coexistir, podemos ordená-las lado a lado, organizando-os conforme algum critério, com o que formamos uma escala, que é um aspecto quantitativo de transição de menos um elemento para mais de outro, o que é muito útil para entender a realidade e  resolver conflitos em geral.



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É possível ter o melhor dos mundos? É possível a convivência positiva com as contradições? Em princípio é possível, mas o quanto conseguimos depende de nossas habilidades, paciência e dedicação.

A quarta e última postura assume, como pressuposto, que no mundo convivem todas as contradições, e que nele há espaço para a existência de todas. 

O que diferencia a terceira postura, isso e aquilo, da quarta postura, um por todos, todos por um, e cada um em sua medida, é que essa, ao contrário da anterior, (1) não parte de uma visão de escassez, onde para uma posição ganhar um pouco a outra tem que perder um pouco e (2) não adota um modo/estratégia específica, prévia e rígida para  computar/acomodar as visões contraditórias.

Ao contrário da anterior, a postura de cada um em sua medida parte (1) de uma visão de mundo de possibilidades, de abundância, onde em tese, a priori, é possível atender a ambas posições e otimizá-las para obter o melhor de cada uma, e para isso (2) não adota-se um modo específico de acomodação das diferenças, mas busca-se empiricamente, uma combinação que o obtenha o melhor de cada um, limitando um ou outro na estrita possibilidade de não encontrar nenhuma forma de solução.



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Qual das quatro posturas adotar? A preferência é pelas mais refinadas, mas há considerações a fazer.

Da forma como colocamos aqui, perguntaria-se por que não adotar a quarta postura - cada um em sua medida - para todos os conflitos e contradições?

Mesmo que exista uma crescente efetividade - da primeira à quarta postura - em assegurar a preservação de todas as posições, existem dois fatores a considerar.

Em primeiro lugar, existem circunstâncias, não necessariamente excepcionais, nas quais cada uma dessas posturas é mais cabível do que as outras. Assim, existem situações, onde é preciso mesmo firmar nossa posição contra o mundo, outras onde é preciso mesmo escolher entre uma alternativa ou outra, e outras ainda onde uma regra fixa de ganho-perda é o melhor para se lidar com a escassez de alternativas. Mas a preferência, sempre que possível, é pela postura de nível superior.

Em segunda lugar, a cada nível que subimos no refinamento das posturas adotadas, o custo é maior, seja de tempo ou custo cognitivo para desenhar as soluções. Assim, pelo menos em termos de eficiência (existem outros critérios que também são pertinentes), não há necessidade de subir o nível da postura, se postura mais básica é suficiente para se alcançar um bom e sustentável resultado com o qual todos os atingidos estão satisfeitos.

Mas quando enfrentamos desafios, quando entramos em conflito, quando falhamos nos nossos objetivos ou prejudicamos os outros, a vida está nos pedindo para subir o nível da postura, e para isso temos que nos preparar para sermos capazes de usar todas as posturas; lembrando que, quais mais baixo o nível  da postura (todo mundo é capaz de se comportar como se tivesse sozinho no mundo) mais intuitiva e natural ela é, e quanto mais alto é o seu nível, mais a formação e treinamento deliberados das nossas habilidades são necessários.



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As quatro posturas em resumo.

Se defendemos apenas uma posição e nada mais, estamos sozinhos no mundo.

Se estamos nos debatendo com a visão de outra pessoa, cada um de nós acreditando estar totalmente correto enquanto o outro pensa que estamos totalmente errados, estamos vivendo no isso ou aquilo.

Se há possibilidade de preservar um pouco que seja de cada um deles, significa que já aceitamos sua existência e validade, e já estamos no domínio do isso e aquilo.

E se, mais do que preservar o mínimo de cada um, conseguimos obter o máximo de todos, estamos respeitado a autonomia de cada posição e obtendo uma justa solução com cada um em sua medida



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As posturas em jogo.

A postura do sozinho no mundo equivale a jogar um jogo sozinho, sinuca (batendo em qualquer bola da mesa), futebol (chutando num gol sem goleiro), tênis (batendo a bola no paredão), ou, na melhor das hipóteses, jogar golfe sozinho (o que de fato é possível).

A postura do isso ou aquilo em jogo equivale a maioria dos jogos que conhecemos. Em sua versão mais visceral equivale ao jogo de "queimada" onde literalmente jogamos a bola contra o adversário (como num argumento "ad hominem"), e se o acertamos, o eliminamos do jogo. Ou as artes marciais onde o objetivo de um é vencer, derrotar ou subjugar o outro. E também o jogo de tênis, onde a soma dos meus acertos, menos a soma dos meus erros, vence ou perder para o outro.

Em questões de polarização coletiva sobre um tema é interessante pensar num jogo de vôlei onde os jogadores do fundo fiquem apenas dando cortadas no time adversário, e as posições intermediárias, ponderadas, os jogadores na rede, de ambos os times, não participam do jogo, porque as pessoas de um extremo gostam é de interagir/submeter a do outro extremo, e a ponderação não recebe atenção.

E pensando na postura isso e aquilo, a partir do que nos ensinou Rubem Alves, ao contrário do jogo de tênis, onde a derrota do meu adversário é a minha vitória, e vice-versa, no jogo de frescobol nós dois ganhamos juntos, enquanto a bola está em jogo, e nós dois perdemos juntos, se ela se perde. E eu equilibro minha jogada mais forçada com o desejo de que o companheiro de jogo a consiga rebater, e vice-versa, compatibilizando o desejo pessoal com a capacidade do outro de responder a ele.

Por fim, um exemplo de jogo com a postura cada um em sua medida, seria reunir algumas pessoas para montar um complexo quebra-cabeças com centenas ou milhares de peças. Algumas pessoas conectaram algumas peças e outras conectaram muito mais, dependendo das habilidades de cada um, mas todos ganharão com sua parte e participarão igualmente no resultado final, a vitória coletiva que consolida os ganhos individuais num todo maior que a todos satisfaz. 




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Aqui você encontra a lista de todos os aspectos da teoria e pode usá-la para navegar por eles.


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