“O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem”
- Guimarães Rosa.
Tudo o que nasce deve morrer, passando pela natureza em direção à eternidade.
- Shakespeare.
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Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.
- Lavoisier.
Sobre essa sabedoria é importante se dizer que ela abarca dois fundamentos da realidade: b) a variação, pois tudo se transforma, e a) a existência, pois o fato de que nada em sua imanência se cria ou se perde naturalmente se refere à existência, que simplesmente é, não importando a sua forma temporal (passada, presente, futura) ou outra forma/aparência que seja.
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Parafraseando Iain McGilchrist, não existem coisas que variam, mas apenas variação, que se manifesta como coisas que variam.
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Mudança? Não, obrigado!
Esse fundamento é pelo menos tão difícil de aceitar pessoalmente como a existência. Se nessa a dificuldade era a de aceitar as coisas como são mesmo quando não as compreendemos, percebemos ou aceitamos; na variação é terrivelmente sofrido aceitar que algo que amávamos deixa de ser daquela forma, como provavelmente foi o ápice nossa experiência original de abandonar "o jardim do éden" (casa, comida, roupa lavada) que vivíamos na barriga de nossas mães.
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Variação e variedade.
A variação representa a mudança, a versão dinâmica da qual a variedade é a versão estática. Pressupõe o estado ou variável (porque eles mudam), afirma a impermanência, a ambivalência, a contradição, a multiplicidade e assim por diante. A variação também pode ser vista na evolução, dinâmica, transformação, crescimento/decrescimento, passagem do tempo, deslocamento no espaço, ação, transição, e assim por diante.
A variação abarca subaspectos como: a) a variação gradual que ocorre entre estados quantitativamente diferentes, mas qualitativamente contínuos (mais frio, menos frio), b) a variação abrupta que ocorre entre estados qualitativamente diferentes (uma pessoa está alegre e fica triste), c) na oscilação entre um estado e outro (noite e dia e noite e dia...), e assim por diante.
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Fundamento da variação: para que mesmo isso serve?
A variação também pode ser compreendida com outras formas conceituais tais como: a) a variação funciona como uma analogia - uma ponte - entre as contradições ou perspectivas, b) a variação permite que coisas diferentes ou contraditórias coexistam em sua dualidade, c) a variação como uma solução ao dilema das diferenças afirma a possibilidade de coexistência - igualmente válida - entre as perspectivas diferentes que recaem sobre um mesmo objeto.
Então, para que serve mesmo a variação? Para lidarmos com a incerteza, as possibilidades e probabilidades do mundo, as ambivalências humanas. Para que aceitemos melhor a mutabilidade do mundo sem nos surpreender e sofrer tanto. Para que vejamos as mudanças não só como repentinas, mas também incrementais, naturais e compreensíveis. E para que aceitemos a diferença como estado natural das coisas:
Ser diferente é normal
- Preta Gil
A diferença entre dois aspectos quaisquer da realidade, é tanto um pressuposto da variação (não pode haver variação se não houver diferença entre "A" e "B"), quanto um pressuposto do fundamento da autonomia, pois algo não pode ser minimamente autônomo em relação ao seu entorno se não tiver nenhuma diferença que o distingua.
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