CARTA BRANCA




Como seres humanos, a gente não percebe, mas de regra temos uma maturidade maior na compreensão da realidade concreta do que na realidade abstrata.

Se você olhar para a sua sala, por exemplo, irá perceber que a mesa tem espaços vazios em cima (para colocar os pratos e outros utensílios) e em baixo (para encaixarmos nossas pernas). O sofá tem um "espaço vazio" que é onde sentamos. E as estantes seriam inúteis se não tivessem muito espaço vazio para colocar os livros. E é no espaço vazio entre os móveis que podemos circular.

Já as teorias e práticas costumam ser construídas para serem completas e, salvo nas ciências e métodos terapêuticos, há pouco ou nenhum espaço em branco para as subjetividades das pessoas que aprendem e experimentam.

Na ontologia da Razão Generosa existem oito classes de assuntos: A razão generosa em si, os fundamentos, os domínios, os ingredientes, os enfoques, as posturas, as cartas brancas e as dinâmicas.

A Carta Branca, nome inspirado no material didático da razão generosa, é o espaço na teoria e na prática, para os estudantes e pessoas em geral adicionarem suas próprias ideias e experiências, ou mesmo outras teorias que entendam importantes para as reflexões e conversas.

A carta branca demanda do estudante e das pessoas em geral que eles se reconheçam como autores e não apenas como espectadores das aulas e de suas próprias vidas. Como autores, precisam reconhecer ao mundo que os cerca, e aceitar a realidade como ela é, para a partir daí inventarem e reinventarem suas ideias, experiências e a própria vida.

A carta branca pode estar totalmente em branco, e aí o seu autor faz exatamente o que quiser com ela. Ou pode ser espaços variados para uma certa criação pelo seu autor. 

Os aspectos - e respectivas cartas no baralho didático - do É sobre mim (abme) e do É sobre nós (abus) resultam da combinação da carta branca com a realidade intrapessoal e com a realidade interpessoal. 

Com isso se criam aspectos (abme e abus) que são na verdade espaços em branco para que cada um de nós desenvolva autoconhecimento, autotransformação (é sobre mim) e reconheça e construa com outros, o que há de compartilhado, de próprio daquela relação, de singular naquele encontro (é sobre nós).

A carta em branco, totalmente em branco, se relaciona fortemente com o aspecto da invenção em sua máxima potência, pois ambas são as máximas expoentes da autonomia criativa de cada um de nós, por meio da qual somos capazes de "sair da Matrix" e passar a compreender melhor a realidade como ela é, assumindo as rédeas de nossa própria vida, com o poder e a responsabilidade que sempre estão implicados em estarmos vivos, mesmo quando não estamos conscientes deles.



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